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Medo e paranoia: a tática de comunicação de Bolsonaro desvendada

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É inegável que a comunicação de Bolsonaro foi construída de forma eficaz para que ele saísse do submundo da política para se tornar presidente do Brasil.

Ao olhar para as táticas de comunicação de Bolsonaro, umas das perguntas mais intrigantes que muitos dirigentes sindicais têm se feito hoje é:

– Como, em meio a tanta informação, temos tanta gente desinformada?

Sem dúvida, nunca foi tão fácil ter acesso à informação como hoje. Contudo, viver na “era da informação” não significa, necessariamente, estar bem informado.

Em um passado não muito distante, dizia-se que os brasileiros se “informavam pouco” e eram “pouco politizados”. Mas, de uns tempos para cá, isso mudou. 

Setores oportunistas passaram a usar a adotar métodos de disseminação de mentiras em massa, fazendo com que dezenas de milhões de brasileiros passassem a “enxergar” a realidade por meio das fake news. 

Com isso, essas pessoas passaram a ser muito mal informadas e perigosamente mal politizadas.  

E o caso da imensa maioria dos seguidores do presidente Jair Bolsonaro, os chamados “bolsonaristas” e suas diferentes vertentes (bolsominions, bolsonazis, bolsonentos etc).

Em um contexto na qual temos uma abundância de informação, também temos uma escassez de atenção. 

No marketing, existem duas possibilidades de influenciar pessoas: a persuasão e a manipulação.

Enquanto a persuasão consiste em técnicas para levar a pessoa a decidir, por si, sobre algo, a manipulação leva a pessoa a agir como se não houvesse escolha.

É o que acontece com grande parte dos bolsonaristas.

Na comunicação de Bolsonaro, nada é por acaso

As táticas e estratégias de comunicação de Bolsonaro e seus comparsas para conquistar e manter o apoio de seus seguidores são múltiplas. 

Passam pelo desprezo às liturgias do cargo (em demonstração de desprezo pela representação política e constante afronta ao Estado Democrático de Direito), à estética “popularesca” (em cenas montadas, com farofa no colo, ou chinelo e camiseta de futebol em foto oficial, e por aí vai, para dar um ar mais “humano” ao sujeito que é desprovido de traços básicos de humanidade) e palavras de baixo calão (xingamentos, ofensas, palavrões, obscenidades e ameaças – geralmente contra mulheres).

Essas são as táticas subjetivas, que utilizam imagens e mensagens subliminares para construir uma mensagem no subconsciente das pessoas.

Nada disso é por acaso. Não se trata de descuido ou desleixo, por mais grotesco que pareça. São montagens muito bem estudadas, planejadas e construídas minuciosamente.

Veja esse exemplo:

Bolsonaro montagem

Macabro de tão mau gosto, não é mesmo? 

Não é coincidência o sujeito chamado de Messias em posição exatamente igual à figura de Jesus Cristo na famosa obra do Renascentismo “Lamentação sobre o Cristo Morto”, do italiano Andrea Mantegna (pintada entre os anos 1475 e 1478). 

Até o ângulo da foto é exatamente o mesmo da pintura.

Outro exemplo muito relevante é a composição de uma foto tirada na vergonhosa “motociata” de 7 de setembro de 2021. 

Repare que tanto Bolsonaro como dois de seus apoiadores repetem as posições e gestos da pintura que representa o ato de Independência do Brasil. 

Novamente, o ângulo da foto foi planejado minuciosamente para repetir o enquadramento dos elementos da pintura. O objetivo é fixar na cabeça das pessoas a ideia de que Bolsonaro seria um “novo libertador”.

Bolsonaro montagem

Como dificilmente seus apoiadores conseguiriam ligar a foto e a pintura, os blogs e sites extremistas, que recebem dinheiro para divulgar fake news, rapidamente espalharam essa ideia. 

Tudo isso tem peso e ajuda ele a manter parte de seu eleitorado mais fiel sempre animado, vivendo fantasias construídas simbolicamente. 

Esses são apenas dois exemplos entre milhares que circulam permanentemente em grupos lotados de fiéis seguidores. 

Pela precisão da montagem da cena, isso indica que grande parte dos conteúdos não são produzidos por voluntários (ou pelas “tias do Zap”), mas por gigantescas equipes compostas por profissionais de diferentes áreas da comunicação.

Comunicação de Bolsonaro: manipulação massificada para espalhar medo e paranoia

As estratégias bolsonaristas não seriam suficientes para manter apoio sem as eficazes táticas de manipulação, com técnicas e métodos que utilizam a capacidade de determinar opiniões, atitudes e comportamentos.

Um bolsonarista fiel vive em permanente estado de medo estimulado (o ódio, muitas vezes, é gerado a partir desse medo), o que, por sua vez, é alimentado até se transformar em paranoia. 

Ele acredita, piamente, que tem o dever de lutar em nome de seu líder, caso contrário estará sendo negligente (ou “pecando”, caso enxergue pela ótica religiosa). Uma das táticas mais eficazes é fazer a pessoa sentir-se culpada por não se engajar nessa “guerra”. 

É importante ter em mente que por medo, pessoas abrem mãos de princípios mais básicos. É por isso que tantas pessoas “boas” agem como selvagens, e trabalhadores chegam a apoiar projetos que acabam com seus próprios direitos.

“Só o meu lado é do bem”

Outra tática de comunicação de Bolsonaro é trabalhar a motivação, para que seus seguidores achem que tudo o que é oposto ao bolsonarismo representa “o mal”. 

Aí, não escapam os direitos humanos, civis, trabalhistas e sociais, nem a defesa do meio ambiente, da saúde, da ciência ou da educação. Sentimentos básicos da sociedade moderna como amor, igualdade, fraternidade e solidariedade não fazem parte do vocabulário bolsonarista e, por isso, são tratados como se fossem algo ruim. 

Tudo isso cria um estado permanente de alerta.

Segundo estudos, uma pessoa alinhada à extrema-direita se engaja cerca de 40 vezes mais em conteúdo na internet do que uma pessoa de esquerda. Isso amplia o maior alcance das redes sociais extremistas porque:

– Desinformação gera mais engajamento do que informação

– Engajamento gera mais alcance que, por sua vez, gera mais chances de engajamento

Alimentação constante e crise de abstinência

É tudo tão anti-civilizatório que só pode ser sustentado com base na massificação das ideias extremistas. Raramente, pessoas seriam extremistas sem tanto estímulo.

Por isso, os estrategistas da equipe de comunicação de Bolsonaro fazem um esforço gigantesco na disseminação de mentiras e discursos de ódio para convencer, induzir e instigar pessoas a pensarem de uma forma que, provavelmente, nunca pensariam se não fossem constantemente alimentadas por mensagens produzidas com uso de técnicas de escrita, de linguagem, de imagem, de repetição e de massificação.  

Há pessoas que chegam a receber centenas de fake news e mensagens de ódio todos os dias em seus aplicativos de mensagem. 

Segundo neurocientistas, o cérebro humano é mais propenso a aceitar mentiras do que a verdade. Por isso, as fake news despertam emoções e sentimentos que mantêm essas pessoas engajadas.

Como você pode ver, não deixa de ser uma forma de comunicação estratégica, só que usada para propagar o mal.

As fake news agem no cérebro como uma espécie de droga entorpecente. O sujeito engajado extremista age como um dependente químico, buscando formas de saciar suas necessidades com informações que confirmem suas crenças (mesmo que com base em mentiras). 

Aí, há basicamente dois caminhos para tirar a pessoa desse ciclo de violência: 

– Afastá-la dessas mentiras, o que é bem difícil, já que seria necessário tirar o acesso dela a redes sociais e aplicativos de mensagens. 

– Fazer com que passem a consumir conteúdos com informações verdadeiras, para que ela comece a refletir sobre a validade dos conteúdos extremistas que recebe. 

Só informação não basta

Durante muito tempo, parte dos profissionais da comunicação acreditaram que as pessoas costumam tomar decisões com base na lógica, quando têm todas as informações e todo o contexto. 

Mas estudos recentes mostram que o ser humano toma decisões baseados em emoções, e depois usa a lógica para justificá-las.

Essa informação é muito preciosa, pois ela nos mostra que a produção de textos jornalísticos, recheados de dados e informações concretas, não serão suficientes para fazer o contraponto ao bolsonarismo.

Enfrentar o “gabinete do ódio”

Estamos na era da sobrecarga de informações (principalmente por redes sociais e aplicativos de mensagem), não temos tempo de processar todas as informações que chegam até nós e, a partir delas, tomar decisões acertadas. Essa incapacidade nos faz buscar sinais — atalhos que nos ajudem a decidir.

Diariamente, um gigantesco operativo bolsonarista, bastante profissionalizado, produz e distribui memes e fake news criadas com objetivos bem específicos. São conteúdos elaborados pelo “gabinete do ódio” (que operam o esquema de comunicação de Bolsonaro por dentro do próprio governo) ou por inúmeras “células/facções” espalhadas pelo país (e financiadas com muito dinheiro público e privado), usando técnicas de comunicação, marketing e propaganda com elementos que estimulam (muito) seu compartilhamento.

Quem produz esses materiais sabe muito bem que eles irão gerar determinado tipo de engajamento.

Eles são distribuídos por pessoas reais e, principalmente, por robôs e perfis falsos, para atingir outros perfis falso e, posteriormente, pessoas reais.

É preciso muito estratégia para enfrentar tudo isso. Portanto, para que a comunicação sindical possa fazer frente a essa disputa, é necessário aplicar técnicas de argumentação e persuasão, além de implementar estratégias para que os conteúdos produzidos alcancem o máximo possível de pessoas e gerem muito engajamento.

E realmente não existe receita de bolo infalível. O que existe é experiência e criatividade para entender como pensam os trabalhadores e saber quais técnicas de persuasão utilizar para convencê-los.

E os robôs?

Segundo diversos estudos, as redes sociais do presidente Jair Bolsonaro e de vários parlamentares e militantes extremistas são seguidas por milhões de robôs, que são mecanismos programados para agir de forma automatizada.

Eles ajudam a espalhar fake news e conteúdos extremistas nas redes (manipulando algoritmos que aumentam o alcance das postagens), além de criar a falsa sensação de que essas pessoas são seguidas por milhões de pessoas reais. 

Além disso, os robôs estimulam as pessoas “reais” a se engajar também (repetindo o comportamento de manada, quando pessoas reagem a postagens porque já possuem engajamento).

Como enfrentar as táticas de comunicação de Bolsonaro?

É preciso enfrentar o gigantesco esquema de manipulação bolsonarista baseado em mentiras.

Mais do que representar uma boa ideia, peças e conteúdos sindicais bem-produzidos precisam atingir o coração das pessoas.

Não basta apenas publicar conteúdos nas redes sociais. É preciso fazer com que eles sejam disseminados em larga escala. Eles precisam chegar até as pessoas que estão distantes de você (porque não adianta apenas “pregar para os já convertidos”).

E mesmo que o conteúdo chegue até as pessoas, se ele não for impactante e persuasivo, de nada adiantará. Afinal, ele não vai gerar mudanças e não terá efeito.

Se você, dirigente sindical quer que seu sindicato seja uma arma poderosa nessa batalha pelo futuro do país, fale com a gente. Teremos o prazer de te mostrar as diversas formas que podemos ajudar a sua entidade a transformar a realidade, independentemente se você já tem uma equipe de comunicação.

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6 Replies to “Medo e paranoia: a tática de comunicação de Bolsonaro desvendada”

Angélica

Extremamente necessário, precisamos acabar com a barbárie fascista, precisamos urgente de um processo civilizatório de humanização.

Vanea Maria Batista Santana

Muito boa. Más essa doença bolsonaristas não tem jeito, pois eles não gostam de leitura. Experiência na família.

Abridor de Latas

Por isso que mostramos algumas estratégias que podem ser adotadas, inclusive com o contraponto. Ou fazendo com que a pessoa deixe de seguir determinadas páginas…

Maria

Era tudo o que precisava ler, esclarecedor. Em 72 anos de vida, nunca vi tanto ódio sendo disseminado, não fui votar nos dois turnos, pois fiquei com receio de ir sozinha,aqui no bairro onde moro era tranquilo, agora se sabem que vc não gosta do Bostanaro, são grosseiros. É que o assunto vai se prolongar mas teria muito a dizer até onde chega essa onda de ódio

Renata Oliveira

Que necessária essa informação é por consequência a reflexão e discussão que esse texto trás. Obrigada !!!!

Nilson

Para que tudo isso mude tem que exigir que as divulgações de quem criou as fake , sejam obrigados a divulgar a verdade em público,pois estão induzindo ao ódio e ao desrespeito a verdade .